Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado nesta quinta-feira (8), as vendas do varejo cresceram 3,4% em agosto em comparação ao resultado de julho.
Com o desempenho, o comércio supera em 8,9% os índices registrados em fevereiro, quando a pandemia do novo coronavírus ainda não havia afetado a atividade econômica.
Para Cristiano Santos, analista da pesquisa do IBGE, um dos principais motivos para o crescimento das vendas é o pagamento do auxílio emergencial. Isso porque o valor representou uma renda extra para as famílias mais pobres. Além disso, o aumento de concessões de empréstimos para pessoas físicas com juros mais baixos também contribuiu para o índice registrado.
Entretanto, a recuperação do varejo não é linear, pois enquanto alguns segmentos cresceram bastante, outros ainda sentem os efeitos da crise. Entre os destaques positivos estão os setores de móveis e eletrodomésticos, com alta 24,2% em relação a fevereiro, e o de materiais de construção (19,2%).
Enquanto isso, as vendas de veículos caíram 12% em comparação ao período pré-pandemia, e os segmentos de livros e papelaria tiveram queda ainda maior, 39%.
Resultado representa recorde na série histórica
A alta das vendas do varejo no último mês de agosto é a maior já registrada na série histórica da Pesquisa Mensal de Comércio, que começou em janeiro de 2000. O recorde anterior, registrado em outubro de 2014, foi superado em 2,6% pelo índice de agosto.
Em entrevista ao Estado de S.Paulo, a analista da Tendências Consultoria, Isabela Tavares, afirmou que era inesperado esta alta do varejo durante a pandemia e a atual crise sem precedentes. Tavares acredita que o desempenho se deu por uma soma de iniciativas que ofereceram poder de compra aos consumidores, e à restrição do consumo de serviços devido às medidas de isolamento social.
Para ela, o comércio deve seguir crescendo nos próximos meses, mas em um ritmo menor do que o registrado. Isso porque o auxílio emergencial foi reduzido pela metade, de R$ 600 para R$ 300 mensais, de forma que as pessoas voltam a se preocupar com emprego e renda.
Além disso, outro fator que deve fazer com que as vendas sejam contidas é a questão das pressões inflacionárias. Por outro lado, a analista acredita que o condicionante do crédito tende a sustentar um crescimento moderado do setor.
Para o próximo ano, Tavares também vê dificuldades para o comércio manter o ritmo de crescimento apresentado em agosto. O fim dos programas de apoio à economia por parte do governo e o crédito mais restrito em 2021 devem contribuir para esta contenção.
De acordo com a Tendências, a estimativa é que no próximo ano os juros bancários, por exemplo, aumentem em comparação aos níveis de 2020.
Em São Paulo, segundo semestre começa com crescimento expressivo
O início do segundo semestre também foi positivo nas vendas do varejo paulista, segundo a Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista no Estado de São Paulo (PCCV), da FecomercioSP.
De acordo com o levantamento, o setor teve um faturamento de R$ 66,3 bilhões em julho. O índice representa uma alta de 6,8% em relação ao mesmo mês de 2019. No acumulado do período entre julho de 2019 e julho de 2020, o crescimento foi de 1,7%.
Segundo o estudo, dois terços das atividades analisadas tiveram o melhor mês de julho dos últimos 13 anos, quando iniciou a série histórica.
Assim como nos dados levantados pelo IBGE, os setores de materiais de construção e eletrodomésticos estão entre os que se destacaram no período. O primeiro teve alta de 25,7% em comparação a 2019, enquanto o crescimento do segundo foi de 17,1%.
Segundo a FecomercioSP, os números representam algumas consequências das restrições nos fluxos de pessoas por conta da pandemia. Isso porque os consumidores mantiveram o consumo de bens essenciais no período, como supermercados e farmácias, mas reduziram a demanda por itens como roupas e móveis.
Além disso, a pesquisa também constatou impactos do auxílio emergencial a partir de abril. Setores como o de materiais de construção tiveram o crescimento influenciado pelo auxílio.
De janeiro e julho, o faturamento do setor varejista em São Paulo foi de pouco mais de R$ 414 bilhões. O segmento que liderou o índice foi o de supermercados, que teve suas receitas mantidas na média mensal de R$ 22,6 bilhões.